OMS aprova acordo global histórico para enfrentar futuras pandemias

Mundo

Um marco na saúde global

Em uma decisão considerada histórica, os países membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) aprovaram um acordo global voltado para a prevenção, preparação e resposta a futuras pandemias. A decisão foi tomada durante a 78ª Assembleia Mundial da Saúde, realizada em Genebra, na Suíça, após três anos intensos de negociações entre representantes de mais de 190 países.

O pacto visa evitar a repetição dos erros observados durante a pandemia de COVID-19, como a desigualdade no acesso a vacinas, falta de compartilhamento de dados e demora na resposta internacional. O novo tratado busca estabelecer uma abordagem coordenada e equitativa entre os países para proteger vidas e reduzir impactos socioeconômicos em futuras crises sanitárias.

 O que o acordo prevê?

Sistema de Acesso a Patógenos e Compartilhamento de Benefícios (PABS)

Um dos principais pilares do acordo é o estabelecimento do PABS — uma estrutura internacional que obriga os países a compartilharem rapidamente amostras de patógenos emergentes e informações genéticas com a comunidade científica mundial. Em contrapartida, os países que compartilham os dados terão acesso garantido a vacinas, medicamentos e diagnósticos, especialmente aqueles em desenvolvimento ou de baixa renda.

Reserva de vacinas e medicamentos para a OMS

Outro ponto essencial do tratado é a obrigação dos fabricantes de reservar 20% de sua produção de vacinas, medicamentos e testes diagnósticos em caso de uma nova pandemia. Desse total, metade deverá ser doada e a outra metade oferecida à OMS a preços acessíveis. Isso garante que nações mais vulneráveis tenham acesso aos insumos essenciais em situações de emergência.

Princípio “Uma Só Saúde”

O acordo também reforça o princípio de “Uma Só Saúde”, que reconhece a interconexão entre a saúde humana, animal e ambiental. A prevenção de novas pandemias exige monitoramento contínuo de surtos zoonóticos e condições ambientais que favoreçam o surgimento de doenças infecciosas, exigindo cooperação entre diferentes setores.

 Limitações e críticas

Embora o acordo seja juridicamente vinculativo, ele não prevê penalidades para os países que descumprirem suas obrigações. Isso tem gerado preocupações entre especialistas sobre sua efetividade real. Outro ponto crítico é a ausência dos Estados Unidos, que se retiraram das etapas finais das negociações. Como principal financiador da OMS, sua não adesão pode reduzir o alcance e a força do pacto.

Além disso, as discussões sobre pontos técnicos e operacionais — como a forma de distribuição das vacinas e a governança do sistema de compartilhamento de dados — ainda estão em andamento e devem continuar pelos próximos meses.

 O que vem pela frente?

Para que o tratado entre em vigor, ao menos 60 países devem ratificá-lo em seus respectivos parlamentos. A expectativa da OMS é que o processo de ratificação seja concluído até o final de 2025. Paralelamente, grupos técnicos continuam trabalhando nos detalhes operacionais do tratado, como o funcionamento do PABS e a infraestrutura necessária para garantir resposta rápida e equitativa a surtos emergentes.

O acordo também deverá servir como base para futuras reformas nos sistemas nacionais de saúde pública, exigindo maior investimento em vigilância epidemiológica, capacidade laboratorial e produção regional de insumos estratégicos.

 Um passo importante, mas não o fim

Apesar das críticas e desafios, o acordo representa um passo importante rumo à construção de um sistema internacional mais justo e preparado para lidar com crises de saúde. Ele é resultado direto das lições aprendidas com a COVID-19 e demonstra um esforço global inédito para evitar que o mundo seja novamente pego de surpresa.

A implementação efetiva desse tratado dependerá da vontade política dos países, do financiamento adequado e da cooperação contínua entre governos, instituições científicas e a sociedade civil.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *